Olá pessoal. Hoje venho trazer um livro que faz uma análise detalhada e profunda dos contos de fadas. Estou falando do livro "A psicanálise dos contos de fadas", do escritor Bettelheim.
O livro faz uma radiografia das mais famosas histórias para crianças,
extraindo-lhes o seu verdadeiro significado. Os contos de fadas,
considerados por pais e educadores até pouco tempo como “irreais”,
“falsos” e “cheios de crueldade”, são, para as crianças, o que há de
mais real, por lhes falar, em linguagem mágica sobre o que é real dentro
delas. Os pais temem que os contos de fadas afastem as crianças da
realidade, por meio do encantamento e da fantasia. Porém, o real, a que
adultos comumente se referem, é o extremo, é o mundo circundante, talvez
mais cruel do que o das fadas; o conto de fadas, por outro lado, fala
de um mundo fantástico, que é bem mais real para as crianças. Isto fica
ainda mais claro quando as histórias se situam na “Terra do Nunca”, ou
no “Era uma vez um país muito longe...”, ou “Numa época em que os bichos
falavam”, evidenciando, assim, que não se trata do aqui, nem do agora
da realidade adulta, mas de um território fora do tempo e do espaço.
Durante muito tempo, os contos de fadas jazeram esquecidos, desprezados e
banidos sob a alegação de irreais e selvagens, em vista de suas tramas
sempre altamente dramáticas. Depois que a psicanálise desmitificou a
“inocência” e a “simplicidade” do mundo da criança, os contos de fadas
voltaram a ser lidos (e discutidos) justamente por descreverem um mundo
pleno de experiências, de amor, mas também de destruição, de selvageria e
de ambivalências. A psicanálise provou que, na verdade, os pais temem
que os filhos os identifiquem com bruxas e monstros, ogros e madrastas
e, consequentemente, deixem de amá-los. Porém, ao contrário, podendo
vivenciar tudo, identificando a si mesmos e aos pais com personagens dos
contos, os filhos têm sua agressividade diminuída, podendo amar os pais
de maneira mais sadia.
O conto, assim, contribui para um melhor
relacionamento familiar, desmanchando as fontes de pressão agressiva que
poderiam ser dirigidas aos pais. Entretanto, a maior contribuição dos
contos de fadas se dá em termos emocionais ao propor e, concretamente,
realizar a fantasia, o escape, a recuperação e o consolo. Desenvolvem na
criança a capacidade de fantasiar; fornecem-lhe escapes necessários
falando a seus medos internos, a suas ansiedades e seus ódios, seja para
vencer a rejeição (como em “João e Maria”), ou para enfrentar os
conflitos edípicos com a mãe (como em “Branca de Neve”), seja para se
portar diante da rivalidade com irmãos (como em “Cinderela”), ou dos
sentimentos de inferioridade (como em “As Três Penas”). Os contos
aliviam as pressões exercidas por esses problemas; favorecem a
recuperação, incutindo coragem na criança, mostrando-lhe que é sempre
possível encontrar saídas; e, finalmente, consolam, e muito: o “final
feliz”, que tantos adultos consideram “irreal” e “falso”, é a grande
contribuição que eles fornecem à criança, encorajando-a à luta por
valores amadurecidos e a uma crença positiva na vida. A psicanálise dos
contos de fadas mostra as razões, as motivações psicológicas, os
significados emocionais, a função de divertimento e a linguagem simbólica do inconsciente que estão subjacentes nos contos infantis.
Já conheciam essa obra? O que acharam dela? Deixe sua opinião nos comentários logo abaixo.
@Gustavo Barberá - 08/06/2019.