Projeto #12MesesComClarice2020 - Resenha do conto “Uma galinha”





Projeto #12MesesComClarice2020






Conto: Uma galinha
Livro: Clarice Lispector – Todos os contos
Autora: Clarice Lispector
Editora: Rocco
Ano: 2015
Páginas: 656
Onde comprar: Amazon

Esse ano, com o centenário de Clarice Lispector, o projeto está de cara nova. Denominado #12MesesComClarice2020, onde estou participando com três blogs parceiros, o “Café com leitura” da Ana Cláudia, o “Sobre a leitura” da Amanda e o “Conduta literária” da Fernanda continuaremos a postar resenhas do livro "Clarice Lispector - todos os contos". Hoje é a vez do conto "Uma galinha".

     O conto traz a história da fuga de uma galinha que seria sacrificada e cozida para o almoço, mas ao ser resgatada pelo dono da casa e jogada de forma grosseira na cozinha, a ave bota um ovo e a partir desse momento, o sentimento por ela se transforma em puro afeto, onde essa galinha se torna o centro das atenções da família, até certo dia, tornar-se esquecida e indo para a panela.

     Esse é o primeiro conto de Clarice que leio, onde ela coloca um animal como protagonista, sendo que está em caráter totalmente figurativo, pois a ave aqui representa a situação feminina a partir da alegoria da figura de uma galinha. 

 


     Durante o texto, há expressões que se aplicam à personagem galinha, mas que servem para caracterizar o sexo feminino, uma mulher passiva e doméstica, que por vezes, hesitante e trêmula que sonha seguir outro rumo.

     A simbolização da condição feminina na sociedade é observada mais, no momento em que a ave bota o ovo, que a salva. É como se ele fosse um filho prematuro e que a galinha nascida que fora para a maternidade uma velha mãe habituada.


“Foi então que aconteceu. De pura afobação a galinha pôs um ovo. Surpreendida, exausta. Talvez fosse prematuro. Mas logo depois, nascida de forma para a maternidade, parecia uma velha mãe habituada”. 


     Lispector fala de uma galinha/mulher estúpida, tímida e livre que tem que decidir por si mesma os caminhos a tomar sem nenhum auxílio de sua raça. Essa ave é a representação da mulher, enquanto ser passivo e doméstico que deve atender as necessidades do homem no sentido de lhe dar prazer e procriação da espécie humana.



  
      Se analisarmos mais profundamente o conto, pode-se até dizer que essa comparação seja cruel, pois a forma que a galinha é tratada no seu resgate, por ser carregada pela asa e jogada estupidamente no chão da cozinha, mostra a forma que algumas mulheres são tradadas pelo seu cônjuge, por isso chego a conclusão da forma em que Clarice usa a comparação entre a galinha e a mulher.

     Aguardem que muitas novidades do projeto estão por vir nesse ano de 2020. Quem desejar participar da nossa leitura coletiva mensal, me procure no privado.



Sobre a autora

     Clarice Lispector nasceu em Tchetchelnik, na Ucrânia, no dia 10 de dezembro de 1925. Filha de Pinkouss e Mania, de origem judaica, que chegaram ao Brasil em março de 1926, fugindo do antissemitismo disseminado na Rússia durante a Guerra Civil Russa.

     Fixaram residência em Maceió, Alagoas, onde morava Zaina, irmã de sua mãe. Clarice tinha apenas dois meses de idade. Por iniciativa de seu pai, todos mudaram o nome. Nascida Haia Lispector, passa a se chamar Clarice.

Em 1929, mudou-se com a família para a cidade do Recife onde passou sua infância no Bairro da Boa Vista. Fez o primário no grupo escolar João Barbalho. Aprendeu a ler e escrever muito nova e logo começou a escrever pequenos contos. Estudou inglês e francês e cresceu ouvindo o idioma dos seus pais o iídiche.

Com 9 anos ficou órfã de mãe. Terminou o primário e ingressou no Ginásio Pernambucano, o melhor colégio público da cidade. Com 12 anos, Clarice mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, indo morar no Bairro da Tijuca. Ingressou no Colégio Sílvio Leite, onde era frequentadora assídua da biblioteca.

Em 1941, terminado o segundo grau, Clarice ingressa na Faculdade Nacional de Direito, e emprega-se como redatora da Agência Nacional. Depois passa para o jornal A Noite. Em 1943 casa-se com o amigo de turma Maury Gurgel Valente.

     Nesse mesmo ano, termina o romance Perto do Coração Selvagem, que retrata uma visão interiorizada do mundo da adolescência. Em 1944 publica o livro que teve calorosa acolhida da crítica, recebendo o Prêmio Graça Aranha.

     Ainda em 1944, Clarice Lispector acompanha seu marido – diplomata de carreira, em viagens fora do Brasil. Sua primeira viagem foi para Nápoles, na Itália. Com a Europa em guerra, Clarice trabalha como voluntária de assistente de enfermagem no hospital da Força Expedicionária Brasileira.

     Continuou escrevendo, e em 1946 publicou O Lustre. Nesse mesmo ano, passa a residir em Berna, na Suíça. Em 1949 publica A Cidade Sitiada. Nesse mesmo ano, nasce seu primeiro filho, Pedro. Dedica-se a escrever contos e em 1952 publica Alguns Contos.

     Passa seis meses na Inglaterra e em seguida vai para os Estados Unidos, onde nasce seu segundo filho, Paulo, em 1953. Em 1954, Perto do Coração é publicado em francês.

     Em 1959, Clarice se separa do marido e retorna ao Rio de Janeiro, acompanhada de seus filhos. Logo começa a trabalhar no Jornal Correio da Manhã, assumindo a coluna "Correio Feminino".

     Trabalha no Diário da Noite com a coluna "Só Para Mulheres" e nesse mesmo ano lança Laços de Família, livro de contos que recebeu o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro. Em 1961 publica A Maçã no Escuro pelo qual recebe o prêmio de melhor livro do ano em 1962.

     Em 1967 publica O Mistério do Coelhinho Pensante. Nesse mesmo ano, Clarice Lispector sofre várias queimaduras no corpo e na mão direita enquanto dormia com um cigarro aceso. Passou por várias cirurgias e viveu isolada, sempre escrevendo. No ano seguinte publica crônicas no Jornal do Brasil.

     Passa a integrar o Conselho Consultivo do Instituto Nacional do Livro. Era considerada uma “pessoa difícil”. Em 1976, pelo conjunto de sua obra, Clarice ganhou o primeiro prêmio do X Concurso Literário Nacional de Brasília.

     Em 1977 Clarice Lispector escreveu Hora da Estrela, sua última obra publicada em vida, onde conta a história de Macabea, uma moça do interior em busca de sobreviver na cidade grande.

     A versão cinematográfica desse romance, dirigida por Suzana Amaral em 1985, conquistou os maiores prêmios do festival de cinema de Brasília e deu à atriz Marcélia Cartaxo, que fez o papel principal, o troféu Urso de Prata em Berlim em 1986.

     Clarice Lispector faleceu no Rio de Janeiro, no dia 9 de dezembro de 1977, um dia antes de seu aniversário. Seu corpo foi sepultado no cemitério Israelita do Caju.



@Gustavo Barberá – 02/02/2020.

Um comentário:

  1. Gostei! Vergonhosamente, nunca li nada de Clarice Lispector... Entretanto, tenho plena consciência de sua dimensão. No aguardo das próximas resenhas!

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