Leitura Enigmática

Resenha do livro "Os caminhos para a liberdade"

Título Original: Underground railroad
Autor: Colson Whitehead
Ano: 2017
Editora: Harper Collins
Páginas: 320

Caminhos para a liberdade é um livro angustiante e estarrecedor, pois se passa no século XIX, época da escravidão. Ele nos conta a história de Cora, uma escrava que trabalha nos campos de algodão na Geórgia e planeja junto de Caesar, um escravo recém chegado da Virgínia uma fuga para o norte dos Estados Unidos para fugir do pesadelo que passam naquele local onde estão. E para tal fuga, eles usaram uma ferrovia subterrânea construída pelos escravos para esse fim ao longo dos anos, mas que logo foi descoberta e junto as consequências de tal ato.

       Com um enredo forte, o leitor irá ficar chocado e revoltado com as ações e tratamentos que os escravos recebiam durante sua vida, pelas atrocidades cometidas e o racismo cometido que vem ao longo dessa época, sendo aqui bem mais forte e acentuado. Isso me fez várias vezes parar a leitura e pensar como que o ser humano é cruel e o que o leva a ter atitudes que para odiar tanto uma raça, sendo que somos todos iguais. 

 

       A leitura desse livro demorou mais que o usual, pois além da diagramação que me deu muito trabalho (letras minúsculas, parecia que eu não saía da página em que estava), muitas vezes pensava em abandonar o mesmo por causa dos maus - tratos realizados com os escravos que me sensibilizou profundamente, mas que infelizmente é um fato histórico e tive que aceitar.

“As mulheres ainda estavam sendo tratadas como gado e domesticadas. Não como simples mercadorias, como antes, mas como gado: criadas, castradas. Aprisionadas em dormitórios que eram como gaiolas ou viveiros de coelhos”.

       Mas haviam pessoas brancas e com posses que tinham um bom coração naquela época e acolhiam e escondiam os negros em suas residências, como aconteceu com Cora ao ser descoberta durante sua fuga, sendo separada de Caesar, mas conseguindo fugir. Assim como os fugitivos, os brancos que eram descobertos escondendo escravos nos sótãos ou porões de suas residências, teriam um final pior que os próprios fugitivos. E isso aconteceu com Martin e Ethel, na Carolina do Norte quando esconderam Cora durante sua fuga solitária no sótão.

       Quando a história chegou à Carolina do Sul, pude, em certos momentos, comparar determinadas passagens com a época do Holocausto, onde o famoso Dr. Mengele fazia experiências com os judeus, o mesmo estava acontecendo naquele lugar onde abriram um hospital enganando para fazerem experiências com os negros em prol do estudo da evolução da síflis e do comportamento neurológico dos negros e sua prole, levando a esterilização de centenas de mulheres negras que pensavam estar em tratamento médico. Milhares morreram, sendo usados como cobaias.

  

       Algo que me chamou atenção é que no decorrer da história, tem momentos que vão retomando passagens de capítulos anteriores para amarrarem no capítulo atual e deixando assim mais claro o que está sendo contado. Posso dizer que a única alegria que Cora teve foi saber do fim que tomaram as pessoas que estavam a sua procura. Achei o final muito confuso e incompleto, pois deixou em aberto qual caminho Cora iria tomar e se ela realmente ficou livre ou não.

“Se quiserem ver do que é feita essa nação, sempre digo, vocês têm que percorrer os trilhos. Olhem para fora a medida que acelerarem, e vão ver a verdadeira face da América”.

Para quem gosta de uma história contada na época da escravidão e consegue suportar as torturas e tratamentos hediondos que eles receberam nessa época, esse livro é ideal. Dizem que ele é um dos preferidos do ex presidente dos Estados Unidos Barack Obama e de sua mulher Michelle Obama. Para mim, foi um jogo de paciência, tem história sim o livro, mas poderiam ter dado uma enxugada no enredo para não ficar tão cansativo. As fotos feitas do livro para essa resenha são diferentes da que está nas livrarias porque essa foi feita exclusivamente para os associados de um clube de leitura. A tradução é de Caroline Chang.

@Gustavo Barberá - 31/05/2018

Menu