Resenha do livro "A sete palmos"




Título original: A sete palmos
Autor: Waldick Garret
Editora: Novo Século
Ano de lançamento: 2009
Número de páginas: 190


A sete palmos é um livro para os apaixonados por contos de terror e como diz o título, traz sete contos apavorantes, perturbadores e aterrorizantes que irá deixar o leitor com calafrios, mas ao mesmo tempo com a curiosidade aguçada, querendo saber o que sucederá em cada página da obra. O autor se atenta em deixar o enredo sempre com ar de mistério, chegando a mexer com o lado sinestésico e psicológico de quem está lendo. Alguns contos se passam em locais no estado do Paraná, local onde mora o autor. 

        No conto Maldição, encontraremos Marlon Tenório - um rapaz hipocondríaco segundo os psicólogos, mas que na verdade trás consigo desde criança o dom da premonição, só que infelizmente tem visões de tragédias e algumas delas atrapalharam muito sua vida pessoal, como no dia da sua formatura do Ensino Fundamental, que na minha opinião foi o pior acontecimento ocorrido e com o passar do tempo, suas premonições foram mais além do que visões de sua vida pessoal ou de pessoas próximas, mas sim previu tragédias em alguns pontos do Brasil.

“O pior de tudo isso é o sentimento de impotência, de remorso, pensou. Mas isso é passado, agora sei como lidar com essa maldição”.


         E ao passar do tempo, após um ano de casado, Marlon tudo estava sereno e na perfeita paz, deixando-o crente de que tinha vencido seu dom. Sentou-se na sua cadeira de palha e estava preparando seu chimarrão, quando de repente... “Maldita maldição!”

         O próximo conto, intitulado Os Alastores da Vila Redenção, traz Roberval, um promotor recém-concursado, onde tomou posse em uma pequena cidade próxima a Londrina. Chegando a seu destino, logo conheceu o tenente Jackson e o padre Gomide, o qual o primeiro lhe ofereceu estadia em um dos quartos do Fórum, já que Roberval não tinha onde ficar, e esse seria sua casa por um tempo. 

         Ao passar dos dias, Roberval notou que aquela cidade era estranha, ele sentia-se observado todo o momento, começou a ficar perturbado pensando ver seres de outro mundo, como um dia vira uma criança com dentes pontiagudos e unhas longas pular em um poste e depois desaparecer de sua frente e um homem que estava limpando o fórum teve seus olhos despencados das órbitas e seus braços do tronco. 

         E os acontecimentos não paravam por aí: certo dia ele presenciou um atropelamento com vítima fatal e um rapaz que foi incendiado na frente de várias pessoas e as mesmas nada fizeram. Roberval estava achando muito estranho o comportamento dos moradores daquela cidade.

“Meu Deus, o que há com essa cidade? O que há com essas pessoas desgraçadas? Malditas sejam...”.

         E as coisas continuam se complicando para Roberval: Ele tenta pedir transferência para outro local, mas sua carta é barrada por uma comissão montada pelos próprios moradores da cidade. É aí que Roberval descobre que não há prefeito, nem delegado, nem alguma hierarquia política, que os próprios moradores são os gestores daquele lugar. 

         E finalmente, para não estender muito, de uma forma sombria, Roberval descobre quem são realmente aquelas pessoas, aquele lugar e seus objetivos. Destaco que o final desse conto é extremamente arrepiante.

         Passando para o conto Emancipação das almas, encontramos Jack, um homem atormentado por visões, no qual deveria permanecer no hospital internado, pois ainda precisava de cuidados físicos e mentais. Divorciado de Anelise, Jack então resolve contrariar as ordens médicas e pede para ir embora.

         Naquela noite em sua residência, algo bizarro acontece, onde Jack começa a ver vultos em meio de flashes de luzes, deixando-o totalmente transtornado.

“- O quê? Quem é você? Sussurrei titubeando”.

         E para a desgraça se completar em sua vida ele acaba matando sua ex-esposa Anelise em meio dessa paranoia toda, pensando ser um desses seres de outro mundo. É um conto curto, mas assustador.


         Dando continuidade, o conto Pavor traz quatro amigos em uma rodada de pôquer e nesse meio tempo, alguns deles começam a desaparecer de forma misteriosa e enigmática. Quando Lana desapareceu, o grupo resolveu ir procura-la e quando Samuel liga para a polícia, ele recebe uma resposta sombria e perturbadora do policial, onde o deixa atordoado.

“- O que há com você”?
-Você descobrirá caro advogado, ainda hoje! – sussurrou de forma quase inaudível”.

         E não os desaparecimentos ficaram estranhos, o cenário todo começou a se modificar de forma sombria e aterrorizante e já que a polícia não poderia fazer nada, o grupo resolveu ir procurar não só Lana agora, mas Egídio que também desapareceu só que Samuel tenta impedir de saírem, pois há meses tem tido sonhos estranhos e agora está com medo de que se tornem realidade, mesmo assim eles vão à procura deles. Nesse meio tempo, fatos estranhos acontecem que deixam o leitor preso nos acontecimentos. O conto termina com Samuel e sua turma em uma mesa de pôquer e mais uma vez ele perde a rodada. Não posso me prolongar, senão já seria spoiler.

         Já o conto Trinta dias, é o mais assustador e perturbador de todos os sete, na minha opinião. Conta a história de um casal (Abel e Shaiane) que estão de viagem para o Chile, mas seu avião sofre um acidente e cai no meio da Cordilheira. Ninguém sobrevive, inclusive Shaiane. Abel está gravemente ferido, com um corte profundo no abdômen e sangrando muito. Nos seus últimos suspiros, o diabo tomou posse do corpo de um dos passageiros do avião que havia falecido e propôs um pacto para salvar a vida de Abel e da sua esposa. 

         Por fim, Abel aceita realizar o pacto e em seguida desmaia. Ao acordar está em uma vila próxima de Santiago. Lá ele se recupera de seus ferimentos, onde uma cicatriz horrível se formou em seu abdômen e pior do que isso foi sua esposa Shaiane que retornou a vida, mas sem falar e sem ter nenhuma ação, parecia uma boneca de pano.

“Sentava-se na poltrona do quarto, olhos vazios, a cicatriz moldando-lhe parte do pescoço... parecia a noiva de Frankenstein”.

         Mas esse pacto não sairia de graça. O diabo falou para ele que viria a cada trinta dias, quando houvesse lua cheia visita-lo para relembrar esse tão saudoso dia, onde Abel renascera, assim como sua mulher. A dona do local onde eles estavam hospedados começou a desconfiar desse pacto, porque algo parecido acontecera tempos atrás na vila e esse acontecimento teria atraído lobos naquela época e depois que eles chegaram, esses animais voltaram a circundar a vila, deixando os moradores atônitos e pior ficava Abel que a cada dia que se passava, ficava mais aterrorizado porque o trigésimo dia estava cada vez mais perto de acontecer.

         Finalmente chega o apocalíptico dia e o demônio vai até Abel que se encontra acorrentado na cama e ele fica paranoico com a situação imposta pelo demônio nesse dia em que veio prestar contas com esse pobre homem. O final desse conto é surpreendente e chega até abalar o psíquico de quem está lendo. É o melhor conto do livro, na minha opinião.

         Dando seguimento, no próximo conto Sol de vidro encontraremos dois momentos: o primeiro com Roberto e sua mulher que estão em viagem para Morretes, cidade localizada na região litorânea do Paraná e o segundo com Narciso que chega a um supermercado antes do inesquecível acontecer. 

         Um nevoeiro toma conta da região Sul do Brasil, trazendo morte e tragédia por onde passa. Quem entra em contato com ele, tem seu corpo praticamente desintegrado em questão de horas. Narciso está na estrada indo de encontro com a maldita fumaça, despreocupado, pensando que seria mais um quadro meteorológico de praxe quando notou uma viatura policial parada e ao aproximar-se do carro viu os policiais com seus corpos corroídos pelo nevoeiro, caído nos bancos. Aterrorizado, Narciso fecha as entradas de ar e pede para que sua mulher levantar o vidro de seu lado do carro, mas ao realizar tal ato dois dedos de sua mão entra em contato com o nevoeiro e já é tarde demais.

“... ao girar sua cabeça em direção ao som, vislumbrou algo indescritível... as mãos, braços, rosto e tórax de Marisa apresentavam-se descarnados... a maldita névoa consumia vagarosamente seu corpo que jazia estremecendo debilmente...”.

         Enquanto isso o pavor toma conta do supermercado onde Narciso está. O nevoeiro já tinha tomado conta do estacionamento e arredores do prédio, trazendo consigo o desespero e o caos e para completar o quadro de terror, um forte fluxo de água colide com as paredes do supermercado, debilitando sua estrutura. Narciso pensando na sua mulher Tarcila e na sua filha Heleonora, desesperadamente começa planejar um jeito de fugir quando um dos funcionários diz haver um depósito subterrâneo no estabelecimento e todos se escondem, ficando assim protegidos do nevoeiro. O que todos não esperariam foi o fato de que sua permanência nesse depósito duraria semanas, trazendo loucura e morte.
      
         Finalmente desvendado o mistério desse nevoeiro mortal, o exército encontra-os, graças a uma garotinha que teve a brilhante ideia de deixar escrito do lado de fora do depósito uma mensagem de onde estavam e os sobreviventes foram resgatados com sucesso, mas durante o deslocamento das pessoas até o helicóptero, o Tenente Viscond é baleado pela garotinha que se suicida em seguida com a mesma arma usada conta ele. Ao aterrissarem em Curitiba, todos são e salvos e trazendo o corpo do Tenente Viscond, pensaram que tudo tinha terminado, até olharem para o céu e notarem um nevoeiro que estava se aproximando deles. O autor se baseou em um acontecimento real e do livro “O Nevoeiro” de Stephen King para escrever esse conto. 


        Já no último conto Sonale & Rose, Abilio Sonale, um policial aposentado passa por paranoias e flashes de loucuras o que deixa a história arrepiante e perturbadora. Primeiro sargento da polícia militar do Paraná, viúvo e pai de um único filho já casado e morando em São Paulo, Abilio tinha acabado de se aposentar e agora estava solitário em sua residência, longe das tormentas que sua profissão lhe proporcionara a anos de exercício. Apenas uma companheira estava ao seu lado, que também aposentara junto dele. Sua arma, uma pistola Taurus .40, PT 24/7 o qual ele deu o nome de Rose.

        O estresse da sua profissão o fez com que Abilio começasse a ouvir vozes e ter visões, fazendo com que o policial surtasse. Matou um homem pensando que teria assassinado sua mulher, disparou em outro homem em uma joalheria pensando que o mesmo estava assaltando o local. Atirara também em um adolescente que estava conversando de forma pacífica em um grupo de amigos na Praça Tiradentes e do interior de seu carro, alvejou o filho de um advogado que após alguns minutos foi a próxima vítima fatal de Rose.

        A trama se encerra quando Abilio, colérico e perturbado fere um policial em exercício, dando-lhe um tiro em sua virilha com o intuito de querer fazer justiça com as próprias mãos contra esse mundo de violência e obscuridades.

“Essa farda já não faz mais diferença, parceiro! - bradou. É isso mesmo, a criminalidade tomou conta da cidade, só podemos nos esconder ou nos juntar a eles! O que você prefere?”.

        E foi em uma noite de garoa que encontraram Abilio, um policial que se dedicara anos em ajudar e proteger a sociedade em estado lamentável nas ruas de Curitiba...

         A sete palmos termina com um capítulo, onde o autor comenta cada conto escrito de forma que se esclarece alguma dúvida que surja no decorrer da leitura. Foi algo que gostei e em alguns momentos complementou o que já tinha lido. E com isso encerra-se o livro que me prendeu profundamente com suas histórias sombrias e mortais, me levando a sete palmos de introspecção e tormentas.


@Gustavo Barberá - 27/01/2018

20 comentários:

  1. Nossa!!! Contos de terror não é minha leitura preferida prefiro filmes, mas gostei bastante de sua resenha.
    Parabéns.

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  2. Oi Gustavo, tudo bem?

    Adoro ler contos e adorei essa ideia dos contos de terror. Só li ima obra com esta pegada e amei, então fiquei bem curiosa por esse. Pelo que narrou dos contos, creio que iria adorá-los, pois muitos possuem fatos que chamam a minha atenção. O fato do autor trazer no final um capítulo que complementa tudo que foi lido foi uma sacada genial, gostei da ideia. Adorei a resenha!

    Beijos!

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    1. Obrigado e recomendo a leitura, não irá se arrepender.

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  3. Primeiramente, eu adoro quando o literatura nacional é reconhecida e quando o autor tem o cuidado de expor o regionalismo dentro da obra e com enredo de terror,perfeito! Sendo assim, li e achei o conto "Sol de vidro" um dos melhores, mas vale a pena conferir todos. Adorei quando o autor cita a empresa TAURUS no conto Sonale & Rose, empresa brasileira. Muito bom!

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    1. Eu também curti muito os contos, pois todos se passam na Região Sul do Brasil, terra natal do escritor.

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  4. Gosto muito de contos de terror. A começar pelo mestre e, talvez, um dos criadores do gênero: Edgar Allan Poe. Não conhecia o livro nem o autor, mas me interessei bastante. E gostei de encontrar a dica de um escritor brasileiro contemporâneo.
    teofilotostes.wordpress.com

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  5. Oi Gustavo! Eu adoro ler contos, mas não curto muito o gênero de terror. Não superei ainda meus medos de infância haha. Mas achei a premissa super interessante. O conto da queda do avião foi a que me deixou mais curiosa, ainda que meio apavorada. Deus me perdoe, mas lembrei de uns casos de queda de aviões com sobreviventes.
    Gostei bastante sobre como você comentou um pouquinho de cada conto. Parabéns. Beijos
    https://almde50tons.wordpress.com/

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    1. Oi, tudo bem?

      Realmente, os contos são um pouco apavorantes, mas ao mesmo tempo curiosos. Recomendo demais a leitura. E obrigado pelo elogio da resenha. =)

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  6. Eu fujo bastante de terror, não é um tipo de leitura que me agrada muito, mas a dica parece ser muito boa para quem curte.
    Beijos
    Mari
    Pequenos Retalhos

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    1. A obra é uma mistura de terror e suspense, onde a maioria foi baseado em fatos reais, o que deixou a obra muito interessante.

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  7. Parabéns pelo post amo filmes de terror desde pequena gostava de levar uns sustos kkk.http://www.katisouza.com.br

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    1. Então essa obra é um prato cheio para você, recomendo.

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  8. Já quero esse livro. Amo terror em todas as suas formas: romances, contos, séries, filmes.
    Parabéns pelo post e pela resenha!

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    1. Obrigado e pode ler sem medo, pois os contos são fantásticos!!!

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  9. Oi
    Resenha ficou muito boa bem explicada porém , n gosto muito dr história livros e contos de terror para quem gosta vai amar com certeza
    Beijos

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    1. Oi, tudo bem?

      Para quem gosta, esse livro é um prato cheio, recomendo.

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  10. Gosto muito do gênero suspense e terror, não sou muito de ler contos, mas atualmente estou lendo um livro semelhantes ao que você resenhou, gostei muito da premissa do livro quem sabe um dia eu não tenha o prazer de ler? Parabéns pelo blog e resenha.

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