Resenha do livro "O homem que odiava Machado de Assis"

Título Original: O homem que odiava Machado de Assis
Autor: José Almeida Júnior
Ano: 2019
Editora: Faro Editorial
Páginas: 240
Onde comprar: Amazon

De uma mistura de ficção e História do Brasil, eis que surge “O homem que odiava Machado de Assis”, de José Almeida Júnior, uma obra com uma narrativa instigante, verossímel em que na época a Rua do Ouvidor era ponto de encontro das celebridades da nossa Literatura Brasileira.

     O livro nos conta a história de Pedro Junqueira, filho de família rica, onde em uma de suas fazendas ficou conhecendo Machado de Assis, negro, pobre e com epilepsia. Do primeiro encontro que os dois tiveram, ambos se odiaram e a partir daí se tornaram grandes rivais.

     Que leitura sensacional. É uma história que ao mesmo tempo e que faz você voltar na era do Brasil Império, citando grandes autoridades da época como Barão do Rio Branco, Joaquim Nabuco, entre outros, cita grande escritores da Literatura Brasileira como José de Alencar, Gonçalves Dias e Álvares de Azevedo e também da Literatura Brasileira com Eça de Queiroz.

“A verdade é que o Brasil produz bons poetas, mas péssimos romancistas.”

     Mesmo misturando História do Brasil e Literatura, a trama discorre fluída, em momento nenhum esse livro fica pesado, maçante ou com uma história arrastada, ao contrário, quanto mais se lê, mas se deseja saber do que irá acontecer. Senti uma grande dedicação do escritor em construir essa obra, muita pesquisa e cuidado para que se tornasse uma leitura de qualidade e requinte, o que realmente aconteceu.

     Fatos polêmicos como racismo, corrupção e trapaça estão presentes, mostrando que essas atitudes estão praticamente desde a descoberta do Brasil e vem atravessando os séculos. Aqui Pedro tem um certo preconceito por Machado de Assis, pela sua cor e condição social e na política, ele (Pedro) pode sentir que os mais fortes são quem sobrevivem, mesmo sendo de origem rica. E as comparações das obras de Machado de Assis com sua vida pessoal, como Memórias Póstumas de Brás Cubas (jamais imaginaria que fosse plágio) e Dom Casmurro por causa do romance se sua mulher Carolina Novais com Pedro Junqueira foram muito bem colocadas e lembradas. Aqui temos um triângulo amoroso x rivalidade social, pessoal e literária.

“Também teria me vingado. Machado de Assis pagaria por todas as condutas maldosas e covardes que praticara contra mim, desde a infância, quando me invejava e me perseguia, até a fase adulta, em que plagiou meu livro e publicou um artigo destruindo minha carreira política, escondendo-se sob um pseudônimo".

     Outro fato que me chamou demais a atenção e me deixou encantado com essa obra foi a história da escravidão e suas Leis que aos poucos foram libertando os escravos até chegar na Lei Áurea. José Almeida Júnior explanou claramente cada uma no decorrer da narrativa, fiquei extasiado da forma que ele ia intercalando na ficção fatos que foram marcos da nossa História.

"José de Alencar fez uma pausa. Todos tinham olhos fixos no deputado.
 - Fui um dos primeiros - prosseguiu o escritor - que se inscreveram na cruzada santa que trabalha para extinguir a escravatura, não na lei, mas nos costumes, que são a medula da sociedade. Antes de alforriar, é preciso civilizar o negro para que este possa gozar de sua liberdade como ser independente e racional. Não aceitaremos o retrocesso a esse processo natural que nos quer impingir o Imperador". 

     É uma literatura prazerosa, curiosa e até mesmo hilária em certos momentos. Se você ainda não teve a oportunidade de ler “O homem que odiava Machado de Assis”, não sabe o que está perdendo, pois aqui temos cultura e lazer andando juntos e te garanto que será um excelente investimento que fará, obtendo esse livro. Eu recomendo.

Sobre o autor

José Almeida Júnior nasceu no Rio Grande do Norte e atualmente vive em Brasília, onde trabalha como defensor público. Em 2017, venceu o Prêmio Sesc de Literatura na categoria romance, o que lhe garantiu publicar o livro "Última hora" pela Editora Record e se destacar no disputado mercado editorial brasileiro.

Em "Última hora", José reconstrói um dos períodos mais importantes da história do país, ao narrar uma das maiores perseguições da imprensa na época, a de Carlos Lacerda, da Tribuna da Imprensa, ao jornal Última Hora, de Samuel Wainer.  Um dos personagens do livro é o escritor e jornalista Nelson Rodrigues, que criou a coluna “A vida como ela é” no Última Hora. Finalista do Prêmio Jabuti, Última hora é um mergulho nos anos 1950.

     Depois de dois anos de divulgação de "Última hora", José Almeida Júnior lançou em junho, pela Faro Editorial, o livro "O homem que odiava Machado de Assis".  Neste novo romance histórico, o escritor inventa o personagem Pedro Junqueira, que tem uma rivalidade com o maior escritor da literatura brasileira.

@Gustavo Barberá – 23/02/2020.

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