Resenha do livro "O livreiro de Cabul"




Título original: Bokhandleren I Kabul
Autor: Asne Seierstad
Editora: Record
Ano de lançamento: 2008
Número de páginas: 322


Nunca imaginei que um livro como “O livreiro de Cabul” fosse me impressionar tanto. Ele estava em minha estante há alguns anos e depois de todo esse tempo resolvi lê-lo e vi o tesouro que estava guardado em minha casa. É um livro que irá sensibilizar o leitor e fazê-lo refletir nos momentos de dificuldades na vida, pois precisamos olhar para trás e ver que há famílias em situações piores que a nossa.


O livro foi escrita por uma jornalista que morou alguns dias em Cabul, que foi destruída pelo Talibã na casa de Sulthan Khan, um livreiro onde acompanhou e registrou os costumes de uma família afegã e suas atividades diárias, assim como seus valores perante essa sociedade conservadora e às vezes cruel. Em alguns momentos a história se passa também no Paquistão.








Sulthan Khan é um homem ganancioso. Teve uma boa parte de seus livros queimados durante o regime do Talibã e logo após sua queda, se reergueu e liderou Cabul com suas várias livrarias espalhadas pela cidade. Possui duas mulheres e mora em uma casa pequena e repleta de parentes, onde mal dá para se viver com dignidade, não possuem móveis essenciais como guarda roupas, cama e mesa de cozinha. É cruel, pune sem piedade, tira seus filhos da escola para trabalhar em suas livrarias mais de doze horas e discrimina impiedosamente as mulheres. 



O livro é repleto de fatos históricos como a Guerra do Golfo, o fim da URSS, a queda do muro de Berlim, o 11 de setembro e a queda de Osama Bin Laden. Também mostra as leis feitas quando o Talibã assume o poder em Cabul para ser seguida rigidamente como o fechamento das escolas, a proibição de seres vivos estampados em livros e produtos em geral, a proibição de mulheres andarem sem burca e somente com pessoas da família, nunca com estranhos ou sozinhas e os homens não podiam raspar a barba. Quem descumprisse essas leis era punido cruelmente e preso.








As crianças não tinham infância naquela época. Aos onze anos, os pais já o colocavam para trabalhar. Tiravam-nas da escola, algumas nem alfabetizadas eram e as colocavam para trabalhar, onde chegavam a ficar doze horas em uma determinada atividade. Não possuía brinquedos, principalmente bonecas, pois representavam um ser vivo e isso como já dito não era permitido em Cabul. Outro castigo horrível é o adultério ou o sexo antes do casamento.




Se forem casados, são mortos por apedrejamento. Se forem solteiros, a punição é de cem chibatadas e eles terão de casar. Caso ela seja casada e ele solteiro, a mulher será morta e o home chicoteado e preso.”




Na verdade a maior parte do enredo desse livro gira em torno da mulher afegã. O jeito em que ela é tratada, como ela deve se comportar e os castigos que elas sofrem quando foge de alguma regra. Não pode trabalhar, seu casamento é arranjado pelos parentes e casa-se sem amor, apenas para não ser discriminada pela sociedade. Ela é tratada como um objeto que é negociado em um leilão, quem der mais, leva. E uma mulher bem reconhecida nessa sociedade é aquela que conseguir parir muitos filhos e principalmente homens. E sempre são tratadas com muito desrespeito e deboche, Sultan Khan e seu filho Mansur vivem fazendo esse tipo de bullying com elas.



“Eu não ligo para quem não tem importância para o meu futuro, ele diz. E você não significa nada para mim. Você está vivendo às custa do meu pai, é uma parasita – e ri com desprezo, sabendo que ela não tem para onde ir.”

O livreiro de Cabul é uma que dá uma ótima discussão sobre o universo feminino e o jeito que são tratadas, confesso que fiquei muito revoltado da forma de como elas são conduzidas pelas pessoas e, além disso, outros acontecimentos também me chocaram muito. É um prato cheio para quem gosta de fatos históricos, sociais e antropológicos. O livro foi traduzido por Grete Skevik.
@Gustavo Barberá - 09/04/2018
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32 comentários:

  1. Parece ser uma boa leitura! obrigado pela dica

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  2. Esse livro é extremamente marcante e detalista, gosto desse tipo de leitura, vou adicionar na lista.

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  3. O livro pelo lugar que é passado deve ser muito interessante e ao mesmo tempo revoltante, pois as mulheres, principalmente na época dos talibãs era considerada um ser inferior, vale a leitura para aprendermos mais sobre esta cultura tão diferente da nossa. Valeu pela indicação!

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    1. Esse comportamento com as mulheres me revoltou demais, é muito injusto. E o duro que essa tradição está até hoje presente naquele lugar.

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  4. Oi Gustavo!!
    Gostei muito da sua resenha. Eu não conhecia o livro, mas parece ser bem interessante.
    P.S: Muito legal ver um blog de livros feito por homem. É bem raro de ver. Parabéns!!
    Bjs
    https://almde50tons.wordpress.com/

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    1. Eu curto muito ler, é meu hobbie, minha paixão. Faço isso aqui com muita dedicação e carinho. E esse livro é muito bom, recomendo.

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  5. Parece ser um livro bastante marcante! Irei adicionar à lista ��

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  6. Achei muito interessante o tema desse livro, aprender sobre outras culturas é sempre uma forma de agregar conhecimentos. Pena que os costumes são tão ríspidos e ferozes com a sociedade em geral, principalmente com as mulheres. São realmente chocantes as passagens descritas na resenha.

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    1. É um livro bem polêmico e o duro que esses fatos aconteceram e acontecem até hoje naquele país.

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  7. Nossa que história, achei super interessante porque o relato é muito forte.
    Os costumes são bem diferentes de nós brasileiros, boa dica de leitura.

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    1. É uma leitura impactante e bem polêmica, mas vale a pena. Recomendo.

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  8. Ah, que coisa linda... A Guerra do Golfo foi um marco triste na história mundial. É triste notar essa realidade das crianças. Tanto quanto te impressionou o livro, me impressionou o post. Certamente me gerou uma curiosidade imensa pela leitura... Acho curiosa a temática.

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    1. Vale a pena ler porque tem muita curiosidades daquele país que para nós é um absurdo. Recomendo a leitura.

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  9. Oi, Gustavo!

    Eu nunca ouvi falar nesse livro, realmente foi uma surpresa para mim. Tenho lido muitos livros com temática parecida e tem sido leituras maravilhosas e que me acrescentam muito como pessoa.

    Anotado.

    Diego, Blog Vida & Letras
    www.vidaeletras.com.br

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    1. Ele é um pouco antigo e criou um pouco de polêmica após seu lançamento naquela época, por mostrar como as mulheres afegãs são tratadas. Eu recomendo a leitura.

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  10. Deve ser um livro ótimo e cheio de história !
    Gostei do fato do autor nos mostrar que há pessoas em situações piores , pois muitas vezes reclamamos de "Barriga cheia".
    Amei a resenha! Abraço

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    1. Ele mostra a realidade de uma forma bem explícita daquele lugar. Eu recomendo.

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  11. Olá
    Nossa morro de vontade de ler esse livro, mas nunca tinha parado para ler sobre ele, e agora minha vontade cresceu ainda mais, afinal as mulheres no Afeganistão viveram uma vida que vale a pena conhecer mais para nunca acontece outra vez

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  12. Olá Gustavo tudo bem?
    Este livro é muito bom principalmente por abrager uma uma Cultura por nós uma pouco diferente da nossas.
    E passando por vários acontecimentos trágicos no decorrer da história...
    É um Livro para se refletir na maldade entre os povos..
    www.robsondemorais.blogspot.com.br

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    1. Ele é muito polêmico mesmo. Eu fiquei muito surpreso em determinadas partes. Mas a leitura é ótima. Recomendo.

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  13. Ai como dói meu coração ler coisas como essa. A vida de mulheres e crianças que têm essa cultura, é muito triste. Percebemos o quanto o mundo precisa de mudanças.
    Eu respeito muito todo tipo de cultura, mas isso não é vida para mulheres e crianças viverem. Infelizmente, isso é mais comum do que imaginamos.
    Acho que não teria coragem de ler algo assim, mas por covardia minha mesmo. Na minha opinião, é preciso falar sobre isso sempre para que assim, quem sabe, possamos mudar essa história.
    Parabéns pela resenha!

    Grande beijo,
    Além de 50 Tons
    https://almde50tons.wordpress.com/

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    1. Eu concordo com você, é muito injusto o que fazem com as mulheres e crianças lá, mas como disse faz parte da cultura deles. O livro é bem intenso nesse quesito.

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  14. Oi, tudo bem?

    Não conhecia a obra, então encontrar este post foi uma grata surpresa. Pelo seu ponto de vista e quotes o livro parece ser uma ótima dica de leitura.

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    1. É sim, e um pouco polêmico. Mas recomendo a leitura, vale a pena.

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  15. Nossa impressionante mesmo, Achei um pouco da parte de sulthan confuso como um pessoa q vende livro ou em outras palavras vende conhecimento privá os seus filhos?. Gostei bastante vou procurar me aprofundar quando sobra um tempinho

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  16. muito triste, é um livro que faz a gente olhar o mundo de outra perspectiva né, obrigado pela dica!

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